O vice-presidente da Câmara Municipal de Caminha bateu com a porta após ano e meio de governação. Humberto Domingues pediu, na quinta-feira da última semana, 24 de Julho, a suspensão do mandato em rota de colisão com a líder do executivo social-democrata, Júlia Paula Costa.
A decisão terá sido tomada após uma alegada discussão entre os números um e dois do executivo caminhense a 17 de Julho num dos gabinetes dos Paços do concelho. Mas os rumores de existência de turbulência nas relações dos membros da equipa já há algum tempo que circulavam nas ruas de Caminha e até já tinham sido tema de análise numa das reuniões da Comissão Política Distrital do PSD.
No início de Julho a Rádio Jornal Caminhense confrontava Júlia Paula Costa com a existência de um crescente mal estar no seio do executivo. Uma informação que foi prontamente negada pela presidente da Câmara que se afirmou, na altura, "incrédula" com a divulgação de tais informações.
A suspensão de mandato, aprovada por unanimidade na última reunião de Câmara, foi pedida pelo período máximo autorizado por lei, 365 dias/1 ano, o que deverá significar que, após aquele espaço de tempo, Domingues peça a renúncia definitiva do mandato para o qual foi eleito nas últimas autárquicas.
Enfermeiro de profissão, Humberto Domingues era considerado uma das peças mais importantes na engrenagem da Câmara de Caminha, uma vez que era responsável pelos pelouros da Cultura, Educação, Desporto, Saúde e Acção Social. Além disso, o vice-presidente detinha ainda o comando do recém-criado gabinete de apoio às freguesias e do projecto de luta contra a pobreza, conhecido como Caminhar.
O abandono do autarca significa também que o vale do Âncora perde o único representante que tinha no executivo camarário. Um facto que poderá gerar alguma instabilidade, já que aquela zona do concelho de Caminha é a que maior peso eleitoral tem.
Não tendo feito declarações aos meios de comunicação social sobre as razões que estão por detrás da sua decisão, Humberto Domingues invocou, em documento entregue ao executivo camarário, motivos pessoais e profissionais para pedir a suspensão do mandato. No entanto, o presidente da Comissão Política Concelhia caminhense do PSD, João Alberto Silva, admitiu a O Caminhense que outros motivos poderão estar por detrás da decisão tomada pelo vice-presidente. "Quando qualquer um de nós, nestes cargos políticos, abandona alega sempre razões de saúde e razões profissionais", deixou escapar. João Silva admitiu que "somadas a essas pode haver mais". O presidente da concelhia do PSD sublinhou que não tem "uma visão catastrófica" do que aconteceu já que, considerou, "tempo a mais é um erro" e "as mudanças são salutares". João Silva diminuiu, assim, a importância da saída de Humberto Domingues acrescentando que a presidente da Câmara "domina perfeitamente todos os assuntos", e por isso mesmo, "em termos de Comissão Política, não estamos preocupados com estas alterações".
Curiosamente, opinião diferente foi defendida em reunião de Câmara pela presidente do município. Júlia Paula Costa afirmou que para ela o momento era "particularmente difícil". A autarca assegurou que "é sempre difícil ver alguém, ao fim de um ano e meio, ir embora". Durante o encontro, no qual foi votado por unanimidade o pedido de suspensão de mandato do vice-presidente, a presidente da Câmara negou "completamente" qualquer "cisão ou ruptura" no seio do executivo, mas também disse que "nada vai ser abalado" com a saída de Humberto Domingues, já que ela própria tem acompanhado todos os pelouros e "é a presidente da Câmara que gere".
Argumento que não convence o líder da oposição. O socialista Jorge Fão receia que exista "descontinuidade na implementação de políticas ", uma vez que o vice-presidente da Câmara era o responsável por áreas de intervenção de "significativa importância para o desenvolvimento do concelho" e que "políticas por ele anúnciadas" possam ser "ignoradas e postas de parte". "Obviamente que isto vai ter consequências", defendeu Fão. O líder do PS-Caminha considerou que a suspensão por um ano pedida por Humberto Domingues significa "uma renúncia antecipada" do "único militante assumido do PSD" que integrava o executivo camarário.
Carlos Torre, representante do Bloco de Esquerda em Caminha, acredita que a decisão tomada por Humberto Domingues não está relacionada com divergêsncias políticas, mas tem que ver com aquilo que classifica como "sede de protagonismo" demonstrada pelos número um e dois do executivo laranja. "Suponho que nesta Câmara há uma grande sede de protagonismo e essa atitude era partilhada pela dra. Júlia Paula e pelo enfermeiro Humberto Domingues", defendeu o representante do Bloco. Carlos Torres disse ainda que "chegou a altura de não conseguirem conciliar essa divisão de protagonismo e, portanto, o elo mais fraco foi o enfermeiro Humberto Domingues".
Em comunicado enviado à imprensa, a CDU de Caminha escreveu que "fica claramente provado que a equipa de gestão do município não funciona, e de certo nunca funcionou, como equipa de trabalho". Os comunistas defendem também que "há que assumir que os rumores de fricção, que há bastante tempo circulavam em surdina, tinham fundamento, agora demonstrado pela abrupta cisão operada no seio da liderança PSD na Câmara".
Com a saída de Humberto Domingues do executivo camarário de Caminha, sobe a vereador o número seis da lista do PSD que venceu as últimas autárquicas. Trata-se do caminhense Paulo Pinto Pereira, também enfermeiro de profissão, que hoje assume formalmente funções na vereação laranja. Resta saber quais são os pelouros que vai comandar.
Artigo publicado por Susana Ramos Martins em O Caminhense
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