Maria de Fátima Direito não conseguiu conter as lágrimas quando, na manhã de Domingo, chegou ao cemitério da sua aldeia e se deparou com um cenário que nunca imaginou ver. Cruzes partidas, sepulturas derrubadas e vandalizadas, imagens religiosas profanadas. “Chegar aqui de manhã e encarar a nossa sepultura assim é uma grande dor”, confessou a O Caminhense aquela habitante da aldeia de Âncora, no concelho de Caminha.
“Nunca tinha visto nada assim”, afirmava emocionado Silvino Cerqueira que, assim que soube do sucedido, deslocou-se de Vila Praia de Âncora, onde mora, ao cemitério de Âncora, onde está a sepultura da família, que também não foi poupada.
“Ainda estou em choque”, confidenciou Emília Lourenço que, acompanhada pelo marido, deu várias voltas ao cemitério, sempre sem conseguir acreditar no que via: vidros partidos, estátuas derrubadas, campas profanas. Uma devastação total. Das cerca de 250 campas, poucas foram as que ficaram intactas. A autarquia local, presidida pelo social democrata Vasco Gomes, avaliou os prejuízos em cerca de 30 mil euros.
Os estragos foram descobertos pela manhã de Domingo pouco antes da missa matinal. “Logo que cheguei estranhei o ambiente porque as pessoas em vez de estarem em magotes no átrio, estavam no cemitério”, contou o pároco local. Quando Fernando Loureiro chegou ao cemitério ficou “estarrecido”. “Fiquei arrepiado perante uma devastação tão grande. Parece que ali caiu um ciclone que varreu tudo”, frisou.
Naquela altura todos eram unânimes em afirmar que tal trabalho só poderia ter sido feito por um grupo de pessoas. O que não sabiam é que foi um único individuo o responsável pela destruição e profanação do cemitério. Trata-se de um uruguaio de 31 anos, que as autoridades identificaram e prenderam nesse mesmo dia. O indivíduo é também apontado como o autor da destruição, à pedrada, do vidro de uma viatura que se encontrava nas imediações do cemitério, assim como da montra de uma loja de móveis, na freguesia de Âncora. Além disso, vandalizou ainda uma das máquinas das pedreiras de Vila Praia de Âncora e, já durante o dia, roubou um automóvel em Caminha. Foi nessa altura que a polícia foi avisada e conseguiu deter o suspeito, após perseguição policial. Confrontado com os guardas das pedreiras, o uruguaio admitiu o crime, tendo-se confessado também responsável pela destruição quase total do cemitério de Âncora. O homem, que estava a residir ilegalmente em Espanha, justificou o acto dizendo que obedecia a vozes sobrenaturais que lhe tinham dado tal ordem. Face a este comportamento, quando na terça-feira foi presente a tribunal para lhe ser aplicada a medida de coação enquanto aguarda julgamento, o juiz decretou prisão preventiva acompanhada de tratamento psiquiátrico.
Susana Ramos Martins
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