terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Paredes de Coura aposta na preservação de flor que só existe na Península Ibérica

Município encomendou estudo ao Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio-UP) e à Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viana do Castelo

Imagine que é um cidadão chinês, que vive do outro lado do mundo e quer ver narcisos-amarelos (narcissus cyclamineus). Tem duas possibilidades: ou faz uma pesquisa no Google e olha para as imagens encontradas na Net; ou mete-se no avião e vem até à Península Ibérica. É que o Noroeste de Portugal e parte do litoral da Galiza são os únicos locais do mundo onde ainda é possível encontrar esta flor em estado selvagem.
Paredes de Coura, no distrito de Viana do Castelo, ainda é dos concelhos onde é mais abundante esta planta de silhueta curva, que parece debruçar-se sobre a água para contemplar a sua beleza reflectida, como o Narciso da mitologia. A flor está, contudo, em declínio neste território. A Câmara de Paredes de Coura está preocupada e e encomendou um estudo ao Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto (Cibio-UP), que contou com a colaboração da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viana do Castelo.
Durante 2010, os investigadores estiveram no terreno a tentar perceber as ameaças a esta planta endógena que o Plano Sectorial da Rede Natura 2000 definiu como uma espécie prioritária em termos de conservação. As conclusões foram claras: a colheita da flor para fins comerciais, a destruição das margens dos cursos de água - habitat privilegiado do narciso amarelo - e a agricultura intensiva, que utiliza pesticidas, são os principais responsáveis pelo declínio da população de narcisos courenses.
O estudo, que custou dez mil euros, também aponta soluções para estabilizar o número de exemplares desta flor. Segundo João Pradinho Honrado, um biólogo do Cibio-UP que participou na investigação e na redacção do estudo, que deverá ser apresentado em breve, a chave para evitar a extinção do narciso-amarelo é mesmo a protecção do seu habitat, nem que para isso seja necessário vedar alguns núcleos mais ameaçados. Propõe ainda o condicionamento do acesso às margens dos rios e a sensibilização da população local para a necessidade de proteger esta flor.

"Ex libris do Alto Minho"

Pedro Sousa, técnico de gestão de Ambiente da Câmara de Paredes de Coura, explica que outro dos objectivos do estudo, a publicar, é "a irradiação das conclusões para toda a área de distribuição do narciso-amarelo, de forma a serem adoptadas estas práticas de gestão com vista à conservação desta espécie rara".
Atento à evolução do narcissus cyclamineus está o presidente da Câmara de Paredes de Coura, Pereira Júnior. O autarca acredita que o narciso-amarelo poderá tornar-se num ex libris do interior do Alto Minho. "Sendo tão rara, a flor vai alimentar a curiosidade dos entendidos nestas matérias, que quererão vir a Paredes de Coura para verem in loco essa planta", afirma Pereira Júnior.
O cidadão chinês que não ficou satisfeito com as imagens oferecidas pelo Google vai ter de esperar mais um pouco até comprar o bilhete de avião para a Península Ibérica. É que o narciso-amarelo só floresce no início da Primavera, mantendo a flor até meados de Maio.

Escrito por Susana Ramos Martins na edição de 8 de Fevereiro de 2011 do Público

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