quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Projecto luso-galaico de transportes não terá sustentabilidade financeira mas vai avançar




Não será financeiramente viável a rede de transportes públicos rodoviários no Vale do Minho transfronteiriço, que a Uniminho, Associação do Vale do Minho Transfronteiriço, preconiza para dar resposta às cerca de sete mil pessoas que diariamente atravessam a fronteira da região.

O estudo fi nal do Mobitrans, Plano de Transportes Públicos no Vale do Minho Transfronteiriço, já está concluído. O documento, a que o PÚBLICO teve acesso, aponta para a colocação em prática de dois projectos-piloto, ambos explorados por privados, sob a fi scalização da Uniminho.
O primeiro é apenas uma extensão de uma carreira existente, que liga Vigo a Tui, na Galiza. É proposto o seu alargamento a Valença, pela ponte internacional, cobrando apenas mais 50 cêntimos aos passageiros. É um projecto de fácil execução, sem custos, a concretizar até 2013.
A maior aposta da Uniminho consiste no segundo projecto-piloto, que deverá estar a funcionar em pleno até 2016. Trata-se de uma linha circular de transportes públicos que deverá ligar Valença, Monção, Tui e Salvaterra, as quatro principais origens e destinos dos cerca de sete mil passageiros que transpõem diariamente as fronteiras
do vale do Minho, e que não encontram respostas na actual rede pública de transportes.
Segundo o estudo, será necessária a criação de legislação específi ca
aplicável a este tipo de transporte transfronteiriço. “Esta é uma medida de difícil implementação, principalmente pelas barreiras legais que é necessário vencer, antes da entrada em funcionamento do serviço”, lê-se. A elaboração desta nova rede de
transportes rodoviários tem em conta a entrada em funcionamento das plataformas logísticas de Salvaterra As Neves e de Valença e a alta velocidade ferroviária – ligação Porto-Vigo- (entretanto adiada pelo Governo português). Estas estruturas irão implicar “umaintensificação” das deslocações transfronteiriças, logo maior procura de transportes, prevê-se.
O documento apresenta como solução “mais eficaz e menos onerosa” a combinação de duas concessões domésticas já existentes quer no Alto Minho, quer na Galiza, actualmente exploradas pelas empresas Grupo Avic e Empresa Raul S.A. A exploração feita pelos próprios municípios da Uniminho foi considerada inconveniente.
Como este projecto terá “grandes custos” , numa fase inicial serão feitas três viagens diárias em cada sentido, com 34 paragens num percurso de 46,1 km e 80 minutos. Em 2021, pressupondo o funcionamento da linha de alta velocidade Porto-Vigo, prevê-se que esta rede pública de transportes rodoviários seja utilizada por 35 mil passageiros por ano. Os preços a cobrar devem variar entre os 50 cêntimos e os três euros.
Tendo em conta as estimativas de procura, as tarifas e a nova configuração da oferta, o estudo conclui que esta nova rede de transportes rodoviários transfronteiriça não apresenta viabilidade financeira, pelo que “será necessário recorrer a contribuição pública para o equilíbrio das contas”. “O valor máximo deste financiamento deverá corresponder em cada ano ao diferencial entre as receitas e o custo da operação, acrescido de uma margem de 10 por cento.” Os municípios poderão ter de desembolsar até 140 mil euros por ano para cobrir os prejuízos.

Publicado por Susana Ramos Martins na edição impressa do jornal PÚBLICO do dia 3 de Agosto de 2011 

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