quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Craques do FCP ajudam à recolha de fundos para monumento em homenagem aos pescadores de Vila Praia de Âncora


"Olhe, ali vem uma! Aquela, ali atrás, também é, e a outra também!". Chegaram em grupo, vestidas integralmente de negro, as viúvas dos seis pescadores de Vila Praia de Âncora que morreram no mar, em Março, ao largo dos Açores, vítimas do naufrágio do Ana da Quinta, embarcação de um armador local. Maria Fernanda há muito que se encontrava sentada nas bancadas do Âncora Praia Futebol Clube. Esta emigrante, de 54 anos, acompanhou o caso Ana da Quinta à distancia, mas conhece bem a dor de perder os homens da família no mar. Natural de Vila Praia de Âncora, lembra quando, aos 18 anos, perdeu o pai na faina: "São momentos muito difíceis. O corpo do meu pai apareceu ao fim de 20 dias, mas durante todo esse tempo foi um sofrimento horrível. Além da morte, o desaparecimento do corpo provoca nos familiares um sofrimento indescritível". Só da sua família, mais de 20 pescadores morreram no mar.
São já incontáveis as mortes de homens de Vila Praia de Âncora que perderam a vida às mãos daquele que também lhes dá de comer: o mar. O seu grande amor! O grande ódio das famílias enlutadas.
Foi para homenagear todos os homens de Vila Praia de Âncora que se dedicam à pesca, e que compõem uma parte importante da comunidade local, que a direcção do Âncora Praia Futebol Clube, juntamente com a Associação de Pescadores de Vila Praia de Âncora, a Câmara de Caminha e o artista plástico Mário Rocha, decidiu financiar a construção de um monumento em homenagem a todos aqueles que fazem do mar a sua vida, aos desaparecidos e àqueles que por cá ainda andam.
A recolha de fundos, que vai permitir avançar com o projecto, teve início na tarde do último Sábado, 6 de Agosto, no campo de futebol do Âncora Praia com um jogo que opôs uma equipa de antigas estrelas da casa a uma equipa do Futebol Clube do Porto formada por nomes que marcaram a história dentro das quatro linhas - Fernando Gomes, Rui Barros ou o João Pinto portista, que fazia prognósticos só no final do jogo -, todos eles apitados pelo também antigo e conhecido árbitro Paulo Paraty, que se deslocaram a titulo gracioso a Vila Praia de Âncora.
Bancadas cheias, sobretudo com gentes do portinho, de onde saíram grandes craques que fizeram a história do clube de futebol da terra. É daí que vem esta ligação do Âncora Praia aos pescadores, como fez questão de lembrar o presidente do clube, durante a apresentação do projecto. "Vila Praia de Âncora nasceu à volta do mar, à volta da sua classe piscatória, e o Âncora Praia também cresceu com esta gente, pois muitos dos seus fundadores e atletas provêm desta classe".
José Presa explicou que a causa, que classificou como "muito nobre", vai precisar da contribuição de todos, porque apesar do artista Mário Rocha se ter disponibilizado para fazer a escultura sem nada cobrar por isso, vai ser necessário adquirir os materiais "nobres" que a vão compor.
O monumento vai ser colocado no Portinho, a zona onde a classe piscatória se reúne diariamente antes e depois de ir para o mar. "Os contactos já foram iniciados pelo vice-presidente da Câmara com o Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos, visto que aquela zona está em remodelação e é o centro de trabalho da nossa classe piscatória", avançou. 
"Os contributos que ontem, que hoje e que futuramente darão para o projecto serão totalmente utilizados na construção do monumento com que pretendemos homenagear esta classe", esclareceu José Presa, presidente do Âncora Praia.
Para isso vai contar com o apoio da Câmara de Caminha, como prometeu na ocasião o vice-presidente da autarquia. Entusiasmado com o evento, Flamiano Martins recordou  alguns dos velhos craques que fizeram história naquele clube de futebol e que eram pescadores. Foi o caso do "Gaitas" e do Américo.
Após um minuto de silêncio em homenagem aos pescadores desaparecidos, instantes de emoção para alguns dos presentes, a bola começou a rolar no relvado.
Na bancada encontrava-se também Vasco Presa, presidente da Associação de Pescadores de Vila Praia de Âncora, que apoia e aplaude a construção deste monumento. "Esta homenagem já estaria no sonho de muitos de nós, faltava apenas o arranque. Era um sonho de há muito tempo", confessou. "A nossa vila está ligada ao mar de muitas formas, não são só os pescadores que estão ligados ao mar. Há muita gente envolvida na relação com o mar, com a praia. Até o turismo está ligado a esse sector. Por isso, acho que esta homenagem toca um bocadinho a todos".
E todos, em uníssono, puxaram, durante a tarde do último Sábado, pela equipa de futebol da terra, composta também ela de muitos pescadores. Defrontaram os antigos craques do FCP. Não ganharam, é certo (o resultado foi mesmo o menos importante), mas foram os que receberam mais aplausos. Mal o Âncora Praia tocava na bola, mesmo os portistas presentes, aplaudiam calorosamente. Quando o FCP tomava posse da bola e marcava, era o silêncio nas bancadas.

Publicado por Susana Ramos Martins na edição de 12 de Agosto de 2011 do semanário O Caminhense








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