quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Estudo responsabiliza pastorícia pelo aumento do número de incêndios florestais no Minho

Necessidade de pastos para bovinos e garranos e forma como são feitas as queimadas estão na origem do problema
A actividade pastorícia é responsável pelo aumento do número de fogos florestais dos últimos anos na região do Minho. Esta é uma das conclusões de um estudo elaborado pela Universidade do Minho, em parceria com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, sobre a criação de cavalos garranos na serra da Cabreira, no concelho de Vieira do Minho.
Segundo o estudo, os apoios públicos à criação de garranos (espécie em extinção) permitiu aumentar o número de equídeos nos últimos anos, mas fez também com que a espécie passasse a concorrer, por alimento, com o gado bovino, criando “grande pressão” sobre os pastos. Para conseguir alimento rápido, as queimadas têm sido adoptadas como método de regeneração do solo pelos oito por cento da população da zona que ainda se dedicam à agricultura e pecuária.
O problema é que as queimadas, que antes eram controladas por toda a comunidade, hoje são feitas com a atitude de “põe o fogo e foge”, alerta o coordenador do estudo, António Bento Gonçalves. Este docente do Departamento de Geografia da Universidade do Minho explicou ao PÚBLICO que esta é uma consequência da “desestruturação do mundo rural”. Nos anos 50, à volta das aldeias estavam os campos agrícolas, depois vinham as matas tratadas e só depois os espaços silvestres, descreve. “Hoje, a floresta chega à porta de casa das pessoas, já não há compartimentação dos espaços”. Com as serras cheias de mato, “qualquer queimada, que antes seria inofensiva, facilmente degenera hoje num incêndio florestal”.
Para António Bento Gonçalves, a legislação actual criminaliza “toda e qualquer actividade” relacionada com o fogo e também não está adequada à realidade destas populações. Assim, “em vez de ir toda a comunidade guardar o fogo e impedir que ele vá para a floresta, cada um fica em sua casa. E quem vai pôr o fogo foge”, justifica.
Os dados recolhidos revelam que os incêndios registados na serra da Cabreira ocorrem em anos cada vez mais próximos. Uma situação que, frisa Bento Gonçalves, só terá solução quando se avançar com o ordenamento florestal do país: “São soluções que não podem ser aplicadas apenas nos ciclos políticos, de quatro anos. Obrigam a um período alargado, de 20 a 40 anos, para serem eficazes”. A par do ordenamento florestal, este investigador aponta a necessidade de se avançar com o ordenamento do território nas suas diferentes vertentes.
Acabar com a pastorícia está fora de questão, já que o mesmo estudo que associa a esta actividade o aumento do número de fogos na serra da Cabreira – e Bento Gonçalves diz que esta conclusão é extensível a todo o Minho – conclui também que ela é a única forma de rentabilizar os espaços silvestres e, assim, fixar população.


Publicado por Susana Ramos Martins na edição de 17 de Agosto de 2011 do jornal PÚBLICO

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