quarta-feira, 28 de março de 2012

Igreja reconverte santuário da Peneda a pensar no turismo

Diocese de Viana do Castelo quer equipar o santuário com um spa no hotel e construir um hostal e um aparthotel
Um spa, para acolher os turistas do Norte da Europa que procuram o Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG), é apenas uma das várias valências que a Diocese de Viana do Castelo quer criar no Santuário de Nossa Senhora da Peneda, no concelho de Melgaço. A ideia é converter a envolvente do templo religioso do século XVIII, que recebe uma média anual de 50 mil visitantes, num mega empreendimento virado não só para o turismo religioso, mas sobretudo para o turismo de natureza. O investimento está avaliado em quatro milhões de euros.

Já a partir de 1 de Abril, o comissariado nomeado para substituir a Confraria de Nossa Senhora da Peneda – suspensa por ordem do bispo, devido às dívidas acumuladas nos últimos anos – assume a gestão do hotel que já existe no local. Com 20 quartos, há mais de sete anos que a unidade hoteleira estava concessionada a um privado, registando uma ocupação anual a rondar os 35%. Mas o comissariado mandatado pelo bispo de Viana do Castelo entendeu que o hotel estava a ser mal gerido e decidiu tomar as rédeas do negócio.

Também no dia 1 vai reabrir o restaurante do santuário, com capacidade para mais de 200 pessoas e um hostal, destinado a uma clientela mais jovem e com menos recursos.

O padre Raul Fernandes, comissário do bispo na Peneda, explicou ao PÚBLICO que o objectivo é rentabilizar um santuário que, apesar de ter muita procura, em vez de receitas, tem gerado dívidas para a Igreja. Assim, as instalações hoteleiras existentes vão ser dotadas de um spa capaz de atrair o cada vez mais numeroso contingente de turistas que visitam o PNPG e que quase não encontram alojamento nesta zona do parque. “Pretendemos atrair o cliente dos países do Norte da Europa:

Filândia, Holanda, etc.”, exemplifica Raul Fernandes. Sem esquecer os turistas e peregrinos espanhóis, que representam mais de 50% dos visitantes do santuário. Para a concretizar estes planos, a diocese de Viana do Castelo pretende recorrer a fundos comunitários.

Estão a ser preparadas uma candidatura ao Quadro de Referência Estratégico Nacional, para a construção do spa, e outra ao Proder (Programa de Desenvolvimento Rural), para a construção de um aparthotel, este destinado aos peregrinos que participam nas novenas do santuário, que decorrem durante uma semana.

O representante do bispo justifica este incremento da capacidade de alojamento, cuja lotação final ainda não é conhecida, com a necessidade de albergar pessoas que, regra geral, têm parcos recursos e que actualmente se instalam em garagens e noutros locais sem condições. “O aparthotel não será cobrado, cada peregrino dará o que puder”, revela.

O comissariado liderado por Raul Fernandes propõe-se assim gerir um hotel com três estrelas e spa, um restaurante com capacidade para mais de 200 pessoas, um hostal e um aparthotel. Nada que assuste o padre, que também é responsável por quatro paróquias do arciprestado de Melgaço. O objectivo é fazer uma gestão sustentável, tirando partido de todos os recursos da Confraria de Nossa Senhora da Peneda, que incluem vários campos de cultivo. Neles serão produzidos todos os produtos hortícolas usados no hotel e no restaurante, onde se apostará na gastronomia e artesanato locais.

O hotel do santuário vai abrir apenas com dez funcionários, mas, quando entrar em velocidade cruzeiro, deverá assegurar, em conjunto com o restaurante, meia centena de novos postos de trabalho. Algo “muito importante”, sublinha Raul Fernandes, numa zona envelhecida e desertificada.

A nova gestão do santuário da Peneda também aspira a ser um catalisador da economia do concelho de Melgaço. “O comércio local dedica-se apenas à venda de cacos de barro, aproveitando a imagem da Senhora da Peneda. Agora poderá surgir outro tipo de negócios”, comenta o padre Raul Fernandes.


Publicado por Susana Ramos Martins na edição de 24 de Março de 2012 do PÚBLICO

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