quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

"Capo" do narcotráfico galego pode vir a ser julgado em Portugal

Em causa está o papel que os estaleiros Vianapesca terão desempenhado no tráfico de cocaína, quando eram controlados pela mulher de Vásquez Roma

Apontado como o maior traficante de cocaína da Galiza, Ramiro Vázquez Roma poderá vir a ser julgado em Portugal, por suspeita de utilizar o estaleiro naval da Vianapesca para a construção de barcos utilizados no narcotráfico e para a lavagem do dinheiro resultante do negócio da droga.


A informação é avançada pelo diário espanhol El País, que acrescenta que as autoridades de Portugal e de Espanha estão em negociações para decidir qual país vai tomar a iniciativa de pedir que o estaleiro naval localizado em Viana do Castelo seja confiscado.


O PÚBLICO contactou um dos sócios da Vianapesca, que disse desconhecer o processo. Francisco Portela Rosa, detentor de 5% da empresa, esclareceu que o estaleiro, que chegou a construir lanchas rápidas para quatro países (Portugal, Espanha, Guiné-Bissau e Angola), está em processo de pré-falência. A sede da empresa terá já mudado de instalações, deixando o estaleiro propriamente dito nas mãos de uma firma chamada Navalephes.

Segundo o El País, o estaleiro da Vianapesca, que está avaliado em 1,5 milhões de euros, era utilizado para a lavagem de dinheiro. Entre 2005 e Outubro 2007 - data em que Ramiro Roma foi detido na zona de Pontevedra pelo Serviço de Vigilância Aduaneira de Espanha, quando liderava o desembarque de quatro toneladas de cocaína - terão sido construídas na empresa 70 barcos e "lanchas voadoras".

O diário espanhol cita ainda um relatório da Agência Tributária (um organismo ligado ao fisco espanhol) que revela que parte destas embarcações foi vendida, sem qualquer registo, directamente a redes de narcotraficantes. A venda era realizada iludindo o controlo fiscal.

As actividades de lavagem de dinheiro girariam em torno da Vianapesca e de empresas navais portuguesas e espanholas que "utilizavam facturas falsas pela prestação de serviços inexistentes". Maria Dolores Millán, mulher de Vásquez Roma, era a sócia maioritária do estaleiro, que entrou em declínio em 2007, quando o alegado narcotraficante foi detido.

Ao PÚBLICO, Portela Rosa negou qualquer envolvimento da Vianapesca nos factos, argumentando que "a Mercedes também construiu automóveis utilizados no narcotráfico e não é responsável por isso".

A Polícia Judiciária coloborou na investigação. Na Vianapesca, além de "lanchas voadoras" para alegados narcotraficantes, também foram construídas lanchas rápidas para a Polícia Marítima e para a Marinha portuguesas.


Publicado por Susana Ramos Martins na edição de 17 de Janeiro de 2012 do jornal PÚBLICO

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