segunda-feira, 9 de março de 2009

Ferro em visita ao Portinho de Vila Praia de Âncora - "Cumprimos o que prometemos"

A chuva cai incessantemente, mas mesmo assim a população não desmobiliza. Equipados com bonés vermelhos e bandeiras esperam aquele que dizem ter sido responsável pela construção do novo porto de mar em Vila Praia de Âncoora, Eduardo Ferro Rodrigues. “ A gente o que prometeu cumpriu”, são as primeiras palavras proferidas por Ferro assim que pisa o solo de Âncora debaixo de uma carga de água que mais parece um dilúvio. Os pescadores e as suas famílias não querem deixar passar em branco a oportunidade para agradecer aquilo que eles dizem ser fundamental para a sua profissão, um porto de mar que permita expandir a actividade piscatória. “Ferro, Ferro!!!”, são as palavras de ordem que mais se ouvem durante a visita relampago do candidato a primeiro ministro do PS.
 “Vamos ter benefício. Vai trazer para aqui os nossos jovens que irão formar novas empresas e novas unidades de pesca, o que no futuro vai ser muito rentável”, faz questão de dizer um pescador a Ferro que acena incessantemente com a cabeça. A passos largos, para não permitir que a chuva molhe demasiado a roupa com que se apresentará no comicio de Viana do Castelo, o candidato do partido da rosa dirige-se ao local onde decorrem as obras de construção do portinho, olha para o mar, sorri para as fotografias e câmaras de televisão, e, sem muitas demoras, vira costas e dirige-se para o carro, para, bem rápido, sair daquela terra que parece não ter sido abençoada por São Pedro. “É uma grande obra, é uma obra muito importante para os pescadores. Eu fico muito feliz de ser aqui recebido com este entusiasmo”, faz quetão de sublinhar segundos antes do BMW de estofos em pele, onde já o espera a sua mulher, arrancar a grande velocidade.
Depois de passada a confusão, os jornalistas percebem que afinal o entusiasmo não foi geral. Um pescador que tinha conseguido chegar à fala com Ferro Rodrigues expôs-lhe o facto de não ter licenças para pescar, ao que Ferro lhe garantiu que iria resolver o problema. O pescador é que parece não ter ficado muito confiante:“Tenho duas embarcações, que não tenho licenças para trabalhar. Vão fazer aqui um porto de mar na minha terra e não tenho licenças para trabalhar. Como é que ele vai conseguir. Ninguém consegue”.
A gritaria começa a baixar de tom. As pessoas dispersam com as bandeiras na mão e os bonés de campanha ainda na cabeça. Quem parece que não se quer ir embora é a chuva que incessantemente e sem piedade não dá tréguas aos políticos que aproveitam os últimos dias de campanha para queimar os cartuxos finais numa corrida eleitoral como há já muito tempo não se via.



Peça publicada por Susana Ramos Martins em O Caminhense em 2002

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