“Os idosos confessam que têm medo”. A revelação é feita pelo padre Agostinho Caldas Afonso, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Monção. “Sei que já houve bastantes pessoas assaltadas quando estavam em suas casas e, como não tinham como se defender, tiveram de dar todo o dinheiro que tinham”, relata, garantindo que os idosos são os mais afectados. Muitos vivem sozinhos, isolados, e quando algo acontece, não há quem lhes acuda. “Uma senhora idosa caiu, ficou dois dias entalada entre a cama e a parede, sem se poder levantar, sem ser atendida. Por sorte,os vizinhos deram pela sua falta e ainda foram a tempo”. O relato é feito por José Emílio Moreira,presidente da Câmara de Monção, e corroborado pelo provedor da Misericórdia monçanense.
Caldas Afonso explica que tudo isto “contribuiu” para que as quatro entidades que, em Monção,prestam apoio domiciliário aos seniores - Santa Casa da Misericórdia de Monção, Centro Paroquial Padre Agostinho Caldas Afonso, Centro Social e Paroquial de Barbeita e CENSO (Censo Social,Cultural e Recreativo de Messegães, Valadares e Sá -, se unissem e avançassem com um projecto conjunto que visa colocar um ponto final aos problemas: o tele-alarme. O projecto, que vai ser posto em prática já este mês, não é original, mas que é pioneiro no distrito de Viana do Castelo.
As quatro IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social) já estavam habituadas a realizar alguns eventos conjuntos, mas esta é a primeira vez que trabalham juntas numa iniciativa desta dimensão e desta natureza. E o trabalho, segundo o provedor, tem corrido às mil maravilhas.
Todos se entendem quanto à necessidade de dar resposta aos problemas aos muitos idosos que tem Monção.Trata-se de município situado no interior do Alto Minho com 33 freguesias e com uma população cada vez mais envelhecida, que ronda os 19.646 habitantes. Segundo o INE (Instituto Nacional de Estatística), em 1991 os idosos representavam 19,6 por cento da população. 10 anos depois, eram já 25,1 por cento dos monçanenses. Espalhados pelas muitas aldeias, muitas vezes em situações de isolamento, a vida destas pessoas vai ser agora mais fácil. O tele-alarme vai mantê-las contactáveis durante as 24 horas do dia. Seja por doença, seja por assalto ou uma qualquer outra situação inesperada. Para isso basta carregarem no botão do colar ou do relógio que vão passar a transportar.Fátima Afonso, do Centro Padre Agostinho Caldas Afonso, explica que “perto do telefone fixo existente na casa do idoso, é colocado um aparelho que funciona com alta-voz”. Esse mecanismo será accionado pelo relógio ou colar munidos com um botão e os bombeiros de Monção, onde vai ser instalada uma central, alertados para a situação, fazem a triagem. Se for necessário, chamam também a polícia para acudir ao idoso. Os dispositivos, relógios e colares, têm um raio de acção de 300 metros, o que permite à pessoa andar com o tele-alarme em casa, mas também no quintal.
Nesta primeira fase de implantação do sistema de teleassistencia no município de Monção, vão ser beneficiados 20 a 30 pessoas. “Em primeiro lugar, vão utilizar o tele-alarme os utentes do apoio domiciliário”, adianta Fátima Afonso, explicando que são idosos que vivem sozinhos e que as funcionárias da instituição são as primeiras e as últimas pessoas que vêem durante o dia. “São pessoas que ficam muito agradadas com este serviço porque sentem-se mais seguras”, revela.
Depois, o tele-alarme será expandido aos restantes 80 utilizadores para quem foram compradas pulseiras e relógios. Mais tarde ainda, e segundo o presidente da Câmara de Monção, que desde o início mostra vontade em apoiar o projecto, o tele-alarme será alargado a muitos outros idosos.
As instituições que avançam com o projecto em Monção, decidiram comprar todos os equipamentos que integram o processo, não ficando, assim, dependentes de qualquer outro intermediário. Para isso, contaram com a ajuda da iniciativa “Tempo de Dar”, cujo objectivo é angariar verbas para aplicar em projectos que abordam a questão da solidão na terceira idade, que doou cerca de 30 mil euros. O objectivo é tornar o tele-alarme auto-sustentável.
Segundo a estimativa dos promotores, a teleassistência vai avançar já este mês de Maio. Na pior das hipóteses, no início de Junho. Iva Gaspar, directora técnica da Santa Casa da Misericórdia de Monção, explica que os utentes vão pagar uma mensalidade pela utilização do serviço. “A mensalidade servirá para fazer a manutenção dos aparelhos e para comprar novos equipamentos de forma a alargar o serviço”, sublinha. A tabela das mensalidades é dividida em quatro escalões:
o mais baixo de cinco euros por mês, e o mais alto de 30 euros mensais. “A mensalidade é calculada com base nos rendimentos das pessoas, tendo em conta todos os seus gastos como medicações, água, luz, etc”, esclarece a técnica da Santa Casa da Misericórdia de Monção.
Como o projecto ainda não arrancou, os promotores decidiram não abordar, por enquanto, a população sénior para não lhes criar “incertezas”. Não há, por isso, relatos sobre a utilização do tele-alarme em Monção, mas o provedor da Misericórdia acredita que “o que vai custar é começar.Depois todos vão querer ter um relógio ou um colar de tele-alarme”.
Paredes de Coura aposta em Banco de Voluntariado para apoiar idosos
O tele-alarme é “um sonho” que há muito a Câmara Municipal de Paredes de Coura, vizinha de Monção, há muito “persegue”. Mas, explica o provedor da Misericórdia local, Pereira Júnior, a falta de verbas tem impedido o projecto de avançar. “Fica extremamente dispendioso”, sublinha, adiantando que a autarquia e as associações locais, como a Misericórdia, estão a tentar organizar-se dentro das possibilidades existentes para atenderem “o maior número possível de pessoas”.
E foi para dar resposta à necessidade da população idosa que surgiu o Banco de Voluntariado para prestar apoio aos seniores. “A população vai envelhecendo e cada vez mais temos idosos dependentes, porque vão ficando sem os jovens que vão procurar emprego fora do concelho e da região”, diz Pereira Júnior. Paredes de Coura debate-se, assim, com os mesmos problemas de Monção: o envelhecimento da população.
Sem dinheiro para sistemas mais sofisticados, o Banco de Voluntariado surge como resposta para o problema. “Temos procurado criar condições para que no campo do voluntariado haja gente com tempo e com vontade para ajudar a dinamizar os idosos que estão dependentes”, explica.
O Banco está agora a dar os primeiros passos, mas já há interessados em ajudar a criar actividades destinadas à população mais idosa.
Susana Ramos Martins
publicado na edição de Maio de 2010 no jornal Voz das Misericórdias
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