“Nem queira saber o que senti. Foi mesmo uma coisa muito, muito especial”. João Alpuim Botelho, mesário da Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo, descreve, desta forma, o que sentiu ao ouvir tocar, pela primeira vez, após quase uma década de restauro, o órgão da Igreja da Misericórdia da capital do Alto Minho. Trata-se de um órgão de tubos colocado no coro alto daquele templo religioso, tudo indica tratar-se do único instrumento musical do género em todo o distrito de Viana do Castelo. Foi construído por Frei Lourenço da Conceição em 1721-22 e sofreu uma remodelação no século XIX.
Em 2002, e com o apoio financeiro do IGESPAR, a Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo decidiu avançar com o restauro daquele instrumento. Trabalhos que custaram 35 mil euros e demoraram oito anos até estarem concluídos, o que aconteceu em Julho deste ano, pelas mãos do organeiro Dinarte Machado. João Alpuim Botelho explica que “o restauro foi complicado”. “No início não tínhamos noção, achávamos que aquilo estava em boas condições, mas depois fomos ver e tinha tido ao longo do tempo uma série de arranjos, pregos e tábuas. Entretanto, foi preciso restaurar a caixa do órgão, porque está instalado dentro de umas caixas de palha”, revela. É que o instrumento está instalado numa caixa de talha dourada, tendo do outro lado do coro outro falso órgão, que serve apenas para acolher os foles. Desta forma, cria o efeito de simetria do templo, típico do barroco.
Além da preservação de um património único na região, com este restauro a Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo proporciona também o aprendizado da disciplina de “órgão histórico”, ministrada pela Academia Profissional de Viana do Castelo. Tal só foi possível, como explica o provedor, Alberto Oliveira e Silva, graças a um protocolo estabelecido entre aquelas duas entidades. E saem as duas a beneficiar. O órgão “vai funcionar ainda mais”, adianta o provedor, evitando assim a sua degradação, e os estudantes de música têm a oportunidade de tocar num instrumento único. “Eu gosto de o ouvir tocar”, confessa o provedor, que revela ter sentido, também grande emoção, no dia em que a música voltou a sair de um órgão que esteve parado durante mais de três décadas.
A igreja da Misericórdia de Viana do Castelo
O órgão de tubos agora “ressuscitado” está instalado na Igreja da Misericórdia, que foi projectada pelo engenheiro militar Manuel Pinto de Vila Lobos, em 1716, tendo as obras terminado em 1722. Foi considerada património nacional por decreto-lei em 1910.
A simplicidade exterior da igreja contrasta com a exuberância do seu interior que, apesar de ter uma planta simples, de nave única, é um “feérico pequeno museu de ornamentação barroca”.
O templo foi construído em apenas oito anos e, por isso, - dizem os entendidos – “apresenta um programa religioso barroco puríssimo”. As paredes são totalmente revestidas de painéis de azulejos com passagens bíblicas que representam as 14 obras de Misericórdia
Misericórdia de Ponte de Lima aposta no restauro do património artístico móvel
No Alto Minho, há outras Misericórdias que estão a restaurar o património dos seus templos religiosos. É o caso da Santa Casa da Misericórdia de Ponte de Lima, que, como contou ao Voz das Misericórdias o mesário João Maria Carvalho, está a recuperar várias pinturas a óleo localizadas nos imóveis da instituição. A ganhar novas cores está uma obra de “grande valor artístico”. É uma pintura a óleo sobre tela representando santa Maria Madalena a chorar. “É uma pintura setecentista, de escola italiana, de estilo barroco. Está em estudo a identificação do seu autor, face à dificuldade em tornar legível a assinatura”, adianta.
Em restauro estão também quatro pinturas a óleo sobre tela versando o tema “Descida da Cruz, de estilo maneirista, com data provável entre 1570 e 1640. “São representações de Cristo morto acompanhado por personagens como santa Maria Madalena e José de Arimateia”, continua a explicar o membro da Santa Casa da Misericórdia de Ponte de Lima.
Os retratos do presidente fundador do Asylo de Infância Desvalida, actual lar Dona Maria Pia, António Queirós e do filho Francisco Queirós, que também foi prsidente da mesma instituição, o estandarte da oficina de São José e a Imagem de São José também estão a ser restaurados.
São trabalhos que, no seu conjunto, custam à Misericórdia de Ponte de Lima cerca de 30 mil euros.
Publicado por Susana Ramos Martins na edição de Novembro de 2010 do jornal Voz das Misericórdias
1 comentário:
Parabéns pela noticia retirei um excerto e fiz referencia a fonte no meu blogue. http://florestadointerior.blogspot.com/
Bom trabalho
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