Defensor Moura vai ocupar a posição número dois da lista de candidatos a deputados que o Partido Socialista vai apresentar nas próximas eleições legislativas pelo distrito de Viana do Castelo. Chega assim ao fim o braço-de-ferro do autarca com a Federação Distrital do PS. Quem saiu vencedor? Feitas bem as contas, Moura.
No final do ano passado era certo e sabido que Defensor Moura era o candidato do PS à Câmara Municipal da capital do distrito nas autárquicas deste ano. Não havia quaisquer dúvidas, até porque o curriculum autárquico de Moura não dava margem de manobra para qualquer outro nome em que o PS quisesse apostar: há 15 anos conquistou a autarquia aos social democratas, em cujas mãos sempre havia estado. Nas últimas autárquicas, em 2005, viu o seu mandato ser renovado com maioria absoluta.
Mas eis que a relação de Moura com a distrital, que sempre fora tensa ( o autarca vianense nunca alinhou com o aparelho socialista, nunca aceitou a liderança de Rui Solheiro - presidente da Câmara de Melgaço - na distrital do PS ), quebrou de vez em Janeiro deste ano.
Há dois anos que os presidentes de Câmara da região tentavam acertar agulhas para constituírem uma única entidade territorial ( comunidade) que coincidisse com a NUT III, todo o Alto Minho, para candidatarem projectos conjuntos aos fundos comunitários. Todos os municípios da região alinharam no projecto, com a excepção de Viana do Castelo. O presidente da autarquia, Defensor Moura, disse discordar da lei do associativismo municipal, criada e aprovada pelo seu partido, e decidiu deixar nas mãos da população do seu concelho a decisão de integrar ou não a CIM Alto Minho. Após uma campanha aguerrida - de um lado Moura a defender a não integração, do outro os restantes autarcas e partidos com a Federação Distrital do PS à cabeça a defender a integração de Viana do Castelo na Comunidade - , em Janeiro deste ano a população foi às urnas e votou Não (Viana do Castelo fora da comunidade, da CIM Alto Minho ).
Durante a campanha e após os resultados do referendo, Moura não poupou críticas ao líder da distrital, aos deputados socialistas eleitos pelo Alto Minho e até ao aparelho partidário. O presidente da distrital socialista, Rui Solheiro, não perdeu a oportunidade e anunciou logo após o referendo que, face à atitude de Moura, a Federação avocava o processo de escolha do candidato do PS à Câmara de Viana, processo que, antes da avocação, estava nas mãos da concelhia vianense.
Desde então, foi um medir de forças entre Moura e Solheiro. Se Moura tem o respeito e a admiração dos seus pares por ter conquistado a Câmara de Viana e ter sido sucessivamente reeleito ao longo dos últimos 15 anos sempre com grandes votações, Solheiro, apesar de ser o presidente de uma pequena Câmara do Alto Minho, tem um peso indiscutível no aparelho do PS. Foi graças a ele que Guterres conseguiu aprovar os seus dois últimos Orçamentos de Estado, em 2001 e 2002, quando não tinha maioria absoluta no Parlamento. Foi Solheiro que conseguiu "convencer" o então deputado do CDS-PP Daniel Campelo, também presidente da Câmara de Ponte de Lima (Alto Minho), a votar favoravelmente os documentos a troco de vários investimentos na região. O episódio ficou registado na história como o Orçamento do queijo limiano.
Perante esta luta de "galos" - Moura disponível para ser candidato independente à Câmara de Viana (escreveu um artigo de opinião intitulado: "deportado [deputado], não, obrigado!"), deixando os socialistas atemorizados com uma eventual derrota do candidato em que apostassem, e Solheiro a afirmar que Moura não seria definitivamente o candidato do PS - , o secretário-geral dos socialistas, José Sócrates, viu-se obrigado a intervir. "Fui convidado pelo mais alto responsável do partido para ser candidato como primeiro membro do distrito, logo a seguir a uma figura nacional, e aceitei na condição de ser José Maria Costa o candidato à Câmara de Viana do Castelo", revelou aos jornalistas, no final da semana passada, Defensor Moura. Ainda falta a última palavra da distrital, mas nada leva a crer que Solheiro contrarie as indicações do secretário-geral dos socialistas. Contudo, convém lembrar que em política nada é preto e branco e o que hoje é amanhã poderá muito bem não ser.
Ultrapassado parece estar o problema, mas não a rivalidade. É que Moura, ao anunciar-se candidato a deputado, ao anunciar o número um (Luís Amado) da lista de candidatos socialistas a deputados pelo Alto Minho, e o nome do candidato do PS à Câmara de Viana de Viana do Castelo, retirou todo o protagonismo político a Rui Solheiro, a quem caberia tais anúncios.
Quem saiu, afinal, a ganhar desta "guerra"? À primeira vista, o presidente da distrital, Rui Solheiro, que conseguiu que Defensor Moura não se recandidate à presidência da Câmara da capital do distrito. Mas, há quem, no partido socialista, defenda que o sonho de Moura sempre foi ser deputado. Um sonho nunca alcançado porque a distrital nunca o permitiu. Sendo isto verdade, Moura conseguiu alcançar os seus objectivos e ainda colocar como candidato à autarquia que agora abandona um nome que escolheu e que há algum tempo anunciava como seu sucessor.
Publicado por Susana Ramos Martins em O Caminhense de 15 de Maio de 2009
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